quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Eleições: nem uma nem outro




Eleições: nem uma nem outro


As Elites apresentam seus candidatos à gerência
da ordem estabelecida – a hegemonia burguesa – e
a massa é obrigada a votar no referendo / plebiscito
(‘voto da plebe’) entre a situação e a oposição.

As vozes alternativas são simplesmente silenciadas.
(Ou antes: é dito que não há alternativa.
Ame - o ou deixe-o.)

Percebemos isso no Debate Band de ontem, quando
a candidata da situação – Dilma – enfrentou o candidato
da oposição – Serra – num bláblá televisivo que
simplesmente ignorou os assuntos ECOLOGIA e
REFORMA AGRÁRIA, além de Impostos e
Previdência Social.

Diante de uma Dilma nervosa – e até agressiva – vimos
um Serra frio, até cínico, ao debaterem escândalos mútuos
de corrupção, como loteamento de órgãos públicos por
‘companheiros’ e ‘tucanos’ – seja na Petrobrás, nos Correios,
na Casa Civil. Serra acusa o PT, como se o PSDB não fizesse
a mesmíssima coisa: loteamento partidário das instituições.

Mostram preocupações – e evitam responder questões
polêmicas – com saúde (o tema do aborto nas clínicas públicas),
com a educação (como se não mandassem bater nos professores!),
falam de infra-estrutura (como se investissem mesmo em
aeroportos, usinas, estradas..
.), ou então segurança pública
(como se fossem mesmo acabar com o crime organizado –
o Marcola e o Fernandinho devem ter rolado de rir em suas
acolchoadas celas
...!)

Agora temos um Serra preocupado com o ‘social’ – dizendo-se
criador dos programas assistencialistas pro ‘povão’ – e não
afirmar o programa de privatizações que aprovou quando no
governo FHC – o mesmo governo FHC que ele elogia
a contra-gosto, ou cita apenas para dizer-se lado a lado com
FHC e Itamar, enquanto a candidata é seguida por gente
do quilate de Collor, Sarney, Temer...

O discurso da Dilma – não mais paz & amor – é o mesmo
dos 8 anos do Lulismo – Estado paternal, distribuição de renda,
empregos, ou seja, não é o proletariado quem deve conquistar,
mas o Estado concede aos bons empregados uma chance de
‘subir na vida’ (queremos um país de classe média, ela diz)

A questão do aborto virou uma questão religiosa! Quando é
um tema de saúde pública! Mulheres morrem diariamente
por causa de abortos mal-sucedidos! Mulheres pobres que
recorrem aos açougueiros! Isso nenhum deles diz claramente.
Ficam discutindo normatizações, tabelas de planos de saúde,
com um cascata de números que somente eles entendem!


No mais, precisamos agora conviver com os ‘piedosos’.
Serra é cristão e ecologista de carteirinha.
O frei atesta os princípios cristãos da Sra. Dilma –
precisamos nos referenciar por religiosos enquanto
julgamos viver num país laico!

Desde quando religiosos aprovam ou desaprovam políticos
numa sociedade laica? Se eu disser que sou ateu –
não vou receber votos? NÃO PODEREI SER ELEITO?
Isso aqui vai virar o novo Irã!
Fundamentalismo na cabeça!


Nenhum dos dois! Vamos aceitar a opção dada ao
proletariado? Votar no MENOS pior?

Votar no GETULISMO (disfarçado de Lulismo)
OU no NEOLIBERALIMO (disfarçado de Choque de gestão) ?



Leonardo de Magalhaens

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links para o debate (youtube)

http://www.youtube.com/watch?v=OkRuxAVqABY
http://www.youtube.com/watch?v=gVvV9Z0GnrQ
http://www.youtube.com/watch?v=Rl4aQ-IUdy0&feature=related
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sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Voto de deboche? (ou: Votei no Tiririca)




(Voto de deboche?

ou : Eu votei no Tiririca)

http://www.record.xl.pt/fora_campo/interior.aspx?content_id=466494



Chega de palhaço amador no Congresso.
O povo agora 'soube' eleger um palhaço
profissional – 1, 4 milhão de votos!!!!!!! -
para ocupar um digníssimo assento (de privada?)
no nosso respeitável (sic!) Parlamento.


Sei que fazemos 'piada de português', mas
imagino agora a quantidade de 'piada de
brasileiro' que o pessoal de Portugal está agora
a inventar! Também com os nossos
maravilhosos políticos não podemos esperar
outra coisa!


Ontem percorri uns duzentos metros entre
a minha humilde salinha até a minha seção
eleitoral, num bairro de classe média média,
com nome de padre santeiro, com quantidade
exorbitante de devotos e devotas, todos piedosos,
claro. Percorri os tais duzentos metros e
acabei por atolar numa camada de cerca de
dois centímetros de espessura feita de 'santinhos'
e papéis de campanha. Atolado no lixo eleitoral!
Até de candidatos do PV (que se dizem ecologistas!!)


Ou seja, foi um belo começo de dia eleitoral.
Adentrei o colégio e embarquei numa fila de
cinquenta metros, onde permaneci não menos
que meia hora. Ouvi com atenção os mais diversos
comentários dos eleitores – a maioria eram jovens
e adultos jovens (gente entre 18 e 30 anos) –
sendo que notei apenas três idosos.


Eu meditava profundamente sobre a 'ONDA VERDE'
da candidata Marina Silva – quando ouvi um jovem
de não mais que dezoito anos comentar com a
namoradinha: “A Marina? Pois ela parece mais
a moça que trabalha lá em casa, do que Presidente
do Brasil...!”
Sim, é um absurdo! Mais o mocinho
foi ao menos sincero. Afinal, uma mulher negra,
humilde só pode ser mesmo – na mente de um
menino de classe média média – uma empregada
doméstica!


Mas foi a 'empregada doméstica' que tirou os
votos da 'presidente de 1º turno' segundo o
'salto-alto' dos lulistas. Foi a mulher negra que
era analfabeta até os 16 anos que mobilizou o
discurso ecologista dentro da supremacia
desenvolvimentista-a-qualquer-custo dos
gerentes estatais – lulistas ou não.


Enquanto isso o Serra fica assistindo de camarote –
enquanto os tucanos se recuperam em MG
(Anastasia-Aécio passam Hélio-Patrus) e mantém
o poder em São Paulo (derrotando o Mercadante),
enquanto isso dois-terços (2/3) do Congresso é
renovado com gente ainda pior. (Salvo que nos
livramos – por enquanto – dos 'fichas-sujas')


Pois o Aécio – o 'guru' do Anastasia - mandou um
recado sutil e retórico ao Sr. Lula - “Olha aí,
Lulinha-paz-e amor!
Aqui não, meu rei! Aqui em Minas, as Gerais,
quem manda sou EU! MG é o meu curral,
meu caro Milorde!”
e parece que o Lula agora entendeu! (Enquanto
o lulismo decretava a morte precoce do tucanato!)


E a Marina – agora – vai apoiar quem? A Dilma?
Mas o Par(t)ido Verde não é a Marina. Pois mais
que admiremos a Marina. Os eco-capitalistas
apóiam certamente o Serra. (Ao menos em RJ e SP)
e se a Marina apóia a Dilma -
ex-colega de Trabalho e Ministério – o mesmo não
faz o PV que se aliou a DEM e outros conservadores
em outros colégios eleitorais.


Não se preocupem se temos um palhaço no Congresso.
Mas não tínhamos antes? Não, antes o palhaço era
mesmo... NóS! Nós que acreditamos em
'representantes do povo' assim como achamos que
o ANASTASIA tem alguma 'preocupação social' –
pois quem mantém o sistema Aécio de governo?
As grande construtoras, as grandes mineradoras,
os cartéis que vencem SEMPRE as licitações,
em suma, o EMPRESARIADO, os amados patrões
aos quais agradecemos os nossos abençoados
EMPREGOS!

Agora – em época de trabalhismo-sindicalismo-
peleguismo
– todo mundo fala em EMPREGO PARA
TODOS. Ora, os proletários recebem a 'migalha'
do emprego – pois pior que ser explorado é NÃO ser
explorado! - e se julgam no paraíso –
A CLASSE OPERÁRIA VAI AO PARAÍSO = Lula-LÁ!

E não se preocupem – como diz o mais novo representante
político do país - “Pior do que está não fica!”.
E eu confesso: sou também um abestado.



... após a ressaca eleitoral...


Leonardo de Magalhaens



entrevista com o Tiririca

http://brasilpaisdetolos.blogspot.com/2010/08/tiririca-deputado-federal-que-tal.html


para melhor rir do Tiririca ... ou de nós mesmos
http://www.youtube.com/watch?v=HK4p35wYgXI
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sábado, 2 de outubro de 2010

Errata (p/ Vamos votar no Lula?)

Errata
para o artigo Vamos votar no Lula?


Saibam que eu também faço 'pesquisa eleitoral'.
Das quarenta e três (43) pessoas com as quais conversei sobre
política nas 4 últimas semanas – uma (1) vai votar no Serra,
nenhuma (0) vai votar no Plínio, onze (11) dizem votar na Marina,
e trinta e uma (31) votarão na Dilma.

Ou seja, o Lulismo vai bem, obrigado.


}}} Os dados HOJE já são outros:


Às vesperas das Eleições, das 49 pessoas com as quais conversei
sobre política nas 5 últimas semanas - duas (2) votam no Serra,
duas (2) voltarão no Plínio, treze (13) votam na Marina,
e trinta e duas (32) votarão na Dilma.


Todas as pessoas são das classes média e baixa, sendo um terço (30%)
no nível universitário (estudantes, professores). E os proletários
todos votando no Lulismo - exceto dois estudantes que votam
no PSOL.

Eis o nosso futuro político.


LdeM

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Vamos votar no Lula ?





Vamos votar no Lula?



Nem vou perder o meu tempo valioso a analisar campanhas –
muitos menos de Serra, Marina e Plínio. Digo 'campanha',
não 'pessoas'. Eleição não é escolher 'pessoas' – ah,
porque fulano é bonitinho, engraçadinho, simpaticíssimo
ou não! - é escolher 'programas políticos' ou melhor,
grupo político.

Pois bem, hoje entre os intelectuais (principalmente os
de Esquerda) a questão é : votamos ou não na candidata
do Lula?

Saibam que eu também faço 'pesquisa eleitoral'. Das
quarenta e três (43) pessoas com as quais conversei sobre
política nas 4 últimas semanas – uma (1) vai votar no
Serra, nenhuma (0) vai votar no Plínio, oito (11) dizem votar
na Marina, e vinte e oito (31) votarão na Dilma.
Ou seja, o Lulismo vai bem, obrigado.

Dizem que é 'votar no menos pior', que Serra é retrocesso.
Esquecem que o Serra = PSDB, e PSDB = FHC, que
montou a política econômica que o PT = Lula segue,
acrescentando o sindicalismo – peleguismo agregado à
máquina estatal . Que o PT segue a 'social-democracia' (sic)
do PSDB/FHC – a ponto de Marina (sim, ela saiu do PT!)
discordar e embarcar no eco-capitalismo do PV.
A Marina que não tem 'base política' – o que é evidente -
nem entre os eco-capitalistas – quem diria! Pois os
nossos bons eco-capitalistas estão divididos entre Serra
e Dilma, sendo que o social-capitalistas – vide o José Alencar,
patrono do sistema S – adestramento de futuros operários
para o Mercado todo-poderoso! - apóiam o pró-Lulismo.

Como podemos perceber, o PSDB está mesmo sem discurso.
E justamente o PSDB que tem o Programa de Partido mais
bem articulado e redigido! Já tive a oportunidade – de há
cinco anos atrás – ler os programas partidários do PMBD,
PT, PDT, PSDB e PV – e de todos o mais bem redigido,
coerente, coeso, que suporta todos as críticas de um
professor de 'análise de Discurso' é o programa do PSDB.
Mas na prática... a coisa muda.

No poder, os partidos tendem a ir para a direita. Assim,
o social-democrata PSDB, no governo, é NEOLIBERAL.
O trabalhista PT, no governo, é SOCIAL-DEMOCRATA.
E se os marxistas – PCB, PC do B, PSB, PDT, PSOL,
PSTU, PCO chegassem ao poder seriam apenas
TRABALHISTAS !

Ou seja, a Esquerda da oposição é a Direita no
governo
. Por que? ora, quem mandam são as Elites –
não os gerentes que se alternam! As Elites do Exército,
as Elites do Agronegócio, as Elites da Mídia, as Elites
do Jurídico, as Elites da Intelectualidade, ou seja,
as Elites que preservam os próprios privilégios.

Votar no Lula é votar no Grande Pai que vai nos
adestrar para o trabalho exploratório do Sistema – e
os Donos do Poder (quem já leu Raymondo Faoro?)
agradecem. Votar no Lula, no Serra, é o mesmo.

Agora, há quem vote na Dilma? Mas quem é mesmo
a Dilma? Salvo alguns poucos que a conheceram na
época da Resistência armada, não sabemos quem
é Dilma – a eminência parda por trás do governo
Lulista – assim como o Anestesia no governo Aécio.
Dilma é apoiada por Lula – pronto, eis que
sabemos tudo! (Ela podia muito bem assumir
o passado e não ficar abafando boatos...)

Personalismo por personalismo, votaremos no
mais midiático
. Pois é a Mídia quem fascina este
país de iletrados – de repente, todo mundo é
espírita, porque estreou um filme sobre 'mundo astral'!
E assim, vai. Maria vai com as outras. Vou votar na
Dilma-Lula – ou na Dilmasia – que o eleitorado é tão
louco que vota em PT e PSDB ao mesmo tempo (!) -
acende vela pra Deus e pro Demo (!) - sim, vou votar
na Dilma pois todo mundo está mesmo... votando
na Dilma!

E que o pai Lula nos abençõe!

Por Leonardo de Magalhaens
...
mais sobre o fenômeno socio-político-cultural
Lulismo Varguismo Chavismo Peronismo

alguns links para os textos de
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Demetrio Magnoli
http://artigosenoticias.blogspot.com/2010/09/cemetrio-magnoli-ogro-sim-senhor.html
http://portal.pps.org.br/portal/showData/180818
?(PPS)
??Partido Popular Socialista: popular? socialista? Mero discurso!
.
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lulismo : não extremismo :::
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sábado, 11 de setembro de 2010

O Nacional - Estatismo (texto de Daniel Aarão Reis)

Saudações!
Afinal, Cuba é socialista ?
Agora que o comandante Fidel está a declarar que o 'modelo cubano' não serve nem para a própria Cuba, e Wall Street está soltando foguete! vamos ter que pensar - e pensar muito! - se o que ocorre - ou tentaram criar - em Cuba é mesmo onosso esperado Socialismo (que muitos julgam apenas como mais um itemno longo catálogo das Utopias, e novamente Wall Street agradece...)
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Será capitalismo de Estado? estatismo centralismo populismo? rótulo é o que não falta. O professor Daniel Aarão Reis adota o termo NACIONAL -ESTATISMO. Para quem ainda não leu a obra do Reis, eu logo informo que o pensamento político ideológico do Professor se pauta mais pelo socialismo cooperativista,uma mescla do que há de melhor nos pensamentos socialista e anarquista.
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Vamos então dar um minuto de atenção ao interessante texto do Autor.

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Sobre a declaração do líder cubano Fidel Castro
Ver
http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/reuters/2010/09/08/fidel-castro-diz-que-modelo-economico-cubano-nao-funciona-mais.jhtm

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Uma cultura política: o nacional-estatismo

Daniel Aarão Reis, O Globo, 11/04/10
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Nas últimas décadas do século passado, transformações consideradas inexoráveis, como o processo de globalização, o declínio do Estado do Bem-Estar Social e a desagregação do socialismo soviético apontavam para o fim do Estado Nacional, um anacronismo. Restava apenas o necrológio.

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Entretanto, certos processos históricos em nosso continente, como o da Venezuela e o da Bolívia, sem falar no surpreendente desenvolvimento econômico da China, recolocaram na ordem do dia esta cultura política que parecia morta e enterrada: o nacional-estatismo.

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Trata-se de uma longa história.

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Desde o início do século XX, na Ásia e no mundo muçulmano, nas brechas criadas pelas rivalidades das grandes potências, surgiram concepções que defendiam a ideia de um forte Estado nacional como condição de emancipação econômica e independência política. Sun Yat-sen, na China, e Mustafá Kemal, na Turquia, tornaram-se pais das respectivas pátrias, reconhecidos até hoje, por terem liderado tais perspectivas.

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Em nosso continente, e pelas mesmas razões, Getúlio Vargas, Juan Perón e Lázaro Cárdenas, no Brasil, na Argentina e no México, respectivamente, transformaramse em grandes figuras históricas nos anos 1930 e 1940.

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Nos anos 1950, outros movimentos, mais radicais e com crescente participação popular, confirmariam o vigor do nacional-estatismo. A revolução boliviana de 1952, a tentativa revolucionária na Guatemala, em 1954, as propostas do último governo Vargas (1951-1954) e, finalmente, a revolução cubana, em 1959, foram marcos desta nova onda nacionalista, na qual poderia também figurar o programa pelas reformas de base no Brasil, entre 1961 e 1964.

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É verdade, Cuba tornou-se um país socialista. Mas a revolução, quando vitoriosa, era essencialmente nacionalista — o programa, as bases sociais e a maioria das lideranças, inclusive Fidel Castro. Em perspectiva histórica, pode e deve ser reconhecida como ala extrema de um processo que, desde os anos 1930, mobilizou e convulsionou o continente. Aliás, se o foco de análise se amplia, pode-se dizer que no período posterior ao fim da II Guerra Mundial, até meados dos anos 1970, no então chamado Terceiro Mundo, o nacional-estatismo viveu uma época de ouro.

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Quais as características mais importantes desta cultura política?

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Um Estado controlador e intervencionista, quando não, ditatorial. Políticas públicas desenvolvimentistas e mercado regulado. Movimentos ou partidos, aglutinando diferentes classes sociais em torno de ideologias nacionais e de lideranças carismáticas, baseadas em alianças concertadas, ativas e conscientes, entre Estados, empresários privados e trabalhadores.

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Esta cultura política suscitou a oposição de forças poderosas e heterogêneas, de direita e de esquerda. As direitas, cosmopolitas e liberais, não podiam senão se opor às propostas nacionalistas e estatais. As esquerdas socialistas e comunistas, embora favoráveis a muitos aspectos do nacional-estatismo, competiam com ele pela liderança dos trabalhadores urbanos e rurais. Diferentes motivações, portanto, formariam uma verdadeira santa aliança contra o inimigo comum a ser abatido.

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Sob o conceito vago de populismo, construído por uma certa sociologia paulista, todas estas forças tentaram, então, apresentar o nacional-estatismo como um projeto malsão por natureza, manipulador e corruptor. Virou quase um senso comum a associação dos líderes populistas ao que de pior existe nos costumes políticos: demagogia, mistificação, desvio de dinheiros públicos.

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Assim, e em grande medida, o golpe de 1964 foi dado para eliminar o populismo. Da mesma forma, as esquerdas revolucionárias, no pós-1964, estavam convencidas que o populismo entrara em colapso definitivo, destinado à lata do lixo da História.

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Mas não foi isto que ocorreu.

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Ainda sob a ditadura, o governo Geisel retomaria em grande estilo as orientações nacional-estatistas. Depois da restauração democrática, ao longo dos anos 1980 e 1990, o nacional-estatismo, defendido por várias forças de esquerda, resistiria ao vendaval do liberalismo triunfante. Sua força atual no mundo, nas Américas e no Brasil, favorecida agora pela grande crise de fins de 2008, evidencia raízes, interesses e bases sociais que é necessário menos apostrofar, e mais e melhor estudar e compreender .

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Mesmo porque, neste ano de 2010, as campanhas eleitorais de Dilma Rousseff e José Serra, para não falar nos demais candidatos, irão mostrar, ainda uma vez, que a cultura política nacional-estatista permanece bem viva e será um elemento essencial nas disputas políticas dos próximos anos.

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DANIEL AARÃO REIS é professor de História Contemporânea na Universidade Federal Fluminense.

Fonte: http://www.eagora.org.br/arquivo/uma-cultura-politica-o-nacional-estatismo/

sábado, 28 de agosto de 2010

Capitalismo - uma história de amor




Nós amamos o Capitalismo!



O novo documentário do diretor norte-americano Michael Moore
é outra porrada no estômago da WALL STREET, o lugar
que decide os nossos futuros diariamente, lá onde habitam
o Seres Excelsos que governam nossas vidas, regulam nossos
consumos, inventam novos produtos, nossos portáteis,
novos aplicativos.




No filme, Moore desenrola uma fita amarela de cenário do
crime em torno do quarteirão da Wall Street onde estão
companhias financeiras cúmplices no colapso da economia
em 2008, as quais desde então têm sido as beneficiárias de
salvamentos de muitos milhares de milhões de dólares do governo
dos EUA. Ele tenta efectuar uma "prisão" dos chefes criminosos
destas corporações. Também identifica um certo número de
políticos democratas e seus nomeados que foram cúmplices
dos republicanos de Bush-Cheney neste roubo "à luz do dia"
do tesouro nacional dos EUA por conta dos seus
patrões bilionários da Wall Street.



Todas estas cenas são intelectualmente instigantes e
proporcionam algum "ar fresco" de verdade à população
dos EUA anestesiada pelo álcool, pelas drogas receitadas
e as de rua e por uma TV estupidificante orientada
pelo monopólio capitalista dos mass media.



Vejam o trailer
(english com legenda)
http://www.youtube.com/watch?v=1tI1RTAQc2M

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O cidadão é dominado por um sistema de finanças e
livre capital que cria a si mesmo e voltiza a cada
explosão de uma 'bolha especulativa' – e depois
dizem que vivemos num 'mundo livre', democrático
onde o cidadão tem direito e deveres, e pode decidir
sua vida através dos votos em eleições livres (isto é,
um 'jogo de cartas marcadas' onde somente
vencem os novos gerentes da mesma ordem estabelecida)


Somos educados numa cultura de consumo justamente
para manter a Máquina bem azeitada, as engrenagens
sociais bem disciplinadas, os sistemas de domínio bem
lubrificados, para que o Capitalismo possa seguir
concentrando renda e causando desigualdade social
.


Tudo em nome de uma tal Liberdade, ou livre-iniciativa,
onde os que estão em cima sobem, e os que estão
embaixo, desçam. Tudo em nome de uma liberdade de
consumo sempre incentivada e esticada a cada novo
produto lançado no Mercado, a cada novo nicho de
consumidores, a cada nova moda e modinha, para que
nunca paremos de comprar e comprar, e endividar e
endividar, para manter tudo igualzinho – uns ganhando,
e outros perdendo.



Não haverá fim da pobreza nem igualdade no Capitalismo,
pois o sistema precisa de mão de obra barata, de desigualdade
inerente e intrínseca para manter um grupo dominando
e outros tantos esfomeados. Não há Democracia quando meia
dúzia de fidalgos controlam os meios de produção e
os meios de comunicação.



O Capitalismo funciona a gerar concentração de renda
as Grandes Corporações – através de Fusões – Monopólios –
Cartéis. São os tubarões engolindo (isto é, comprando)
peixinhos e engordando. (Tal a ciclópica OCP – de
“Robocop The movie” - que compra até órgãos do serviço
público, gerenciando a polícia, as prisões, etc)


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Coca-Cola comprou a Columbia Pictures,
investiu no Papai Noele declarou guerra à Pepsi Colahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Coca-Cola#Compra_da_Columbia_Pictures


mais sobre indústria do refrigerante emhttp://www.abir.org.br/article.php3?id_article=395.


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Fusão de Sadia e Perdigão


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Pão de Açúcar compra Casas Bahia


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Nestlé comprou a Parmalat e agora compra
empresa canadense Kraft Food's frozen pizza::::


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Mais sobre as Grandes Corporações


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Versão sério-cômica sobre História do Capitalismo
http://www.youtube.com/watch?v=bsBlSPzb1_c&NR=1
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por Leonardo de Magalhaens
poeta e pensador
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sábado, 21 de agosto de 2010

VENEZUELA: governo populista OU socialista ?




ensaio



Venezuela: governo populista ou socialista?

Uma política de assistencialismo aos pobres, num país com
terrível concentração de renda, por uma figura de carisma,
de um 'pai dos pobres'... onde? esperem, não estamos falando
do Brasil de Vargas nem do atual de Lula... Estamos falando
da Venezuela de Hugo Chávez, do Comandante Chávez.

Depois de golpes bem ou mal sucedidos, o militar venezuelano
Hugo Chávez conseguiu acesso ao poder num país onde os
ricos mandam e os pobres rastejam. Nenhuma novidade.
República de bananas é o que não falta na América Latina.
A Venezuela que importa tudo, e exporta apenas petróleo
bruto – sequer tem petroquímica autônoma...

O que o novo caudilho conseguiu? Chavez reuniu seus
apoiadores políticos num partido único em 2007, chamado
Partido Socialista Unido. O que tem de Socialista é
apenas o nome...
Mas o que trouxe celebridade mundial para Hugo Chavez
foi seu empate contra os 'democratas' EUA. Sim, o mesmo
que celebrizou Fidel Castro – que só se tornou 'socialista',
ou 'comunista', quando viu que somente a URSS poderia
ajudar o regime castrista, que era anti-EUA (os EUA que
sempre exploraram o povo cubano... Fidel sabe bem disso,
e nunca poderia ser coerente se seguisse uma política
pró-EUA...) Mas ser anti-EUA não significa ser 'socialista'
(senão Ahmadinejad, fundamentalista-populista, o líder do Irã,
seria 'socialista'....! dentre outros ditadores por aí...)

O militar Hugo Chávez chegou ao poder através da força –
de um golpe armado – que não é revolucionários, mas
desfechado de cima para baixo dentro da própria máquina –
uma 'quartelada', diríamos. Não foram as forças populares,
os movimentos sociais que constituíram um governo – estas
forças foram cooptadas para dentro do Estado chavista.

Usando a desculpas da reforma – mais social-democrata
que socialismo – o militar Chávez deseja aumentar sempre
a duração do próprio mandato – enquanto o ideal é um
rodízio de poder. O Poder não-coletivo corrompe, e mesmo
um 'esquerdista', como ele se diz, passa a usar o poder
em causa própria, em interesses de dominação.
É apenas outro 'caudilho' com máscara de 'esquerdista'.
No video o não-socialista Chavez diz que é possível uma
amálgama socialismo com pitadas de capitalismo – e sabemos ,
desde Karl Marx, que socialismo e capitalismo são mutuamente
impossíveis
. A nossa luta não é para manter o Capitalismo,
nem o Liberalismo, mas a democracia, se posível aquela
democracia direta – não a representativa, que precisa de uma
classe parasitária de políticos profissionais.

(Detalhe: os videos não são 100% confiáveis, aliás, nada
é 100% confiável)

Não consigo ver Chávez como um socialista. Um militar
só consegue pensar em nível de hierarquias. O que Chávez
quer é um poder mantido de cima para baixo, não uma real
participação popular. Ele diz REPRESENTAR os pobres –
o povão – mas , de fato, está reduzindo o poder popular.
Está concentrando em si-mesmo – tal como fizeram os
estalinistas, os maoístas, os castristas, os donos da Coreia
do Norte – todos a se proclamarem 'socialistas', mas
a traírem a 'revolução' se colocando no Poder.

O povo segue os líderes carismáticos e conseguem um fascismo
ou populismo – ou ambos, vejam o caso da Itália, na época do
Mussolini e agora no governo Belusconi – tudo mais sutilmente,
mais mascarado.

Populismo não é socialismo. O Populismo está mais próximo
do fascismo – pois tira o poder popular e o concentra num líder
que deve guiar a massa – através de políticas assistencialistas,
não de emancipação, nem governo popular.
Os dados positivos do governo chavista – redução do nível de
pobreza – de 49% em 1999 para 37% em 2005 – poderia ser
conseguido por uma política social-democrata do tipo
Welfare State nos países nórdicos – que não são socialistas,
mas um capitalismo amenizado, acolchoado, onde a exploração
é mascarada com salários mais altos, com comodidades para
a classe trabalhadora (que continua sem poder político,
sem democracia direta) com aumento de 'migalhas', numa
política de assistência, não de autonomia.

Contudo, para alguns esquerdistas
( a Esquerda hoje é segmentada em
miríades de seitas e sectarismos... )
as 'reformas' chavistas já são proto-socialismo
No mais, a figura de Símon Bolívar, no movimento
BOLIVARIANO é uma idealização do líder sul-americano,
que era um nacionalista, não um socialista.
Era mais um caudilho tipo 'déspota esclarecido',
do que mesmo um liberal. Querer elevar Bolívar ao pedestral
de santo, elevar o líder no altar, é ser contrário ao
poder popular – poder do povo, não de um Grande Homem –
é ser nacionalista, e dizer-se socialista.
Não sou chavista, castrista, maoísta, estalinista, leninista,
marxista... sou socialista. Não sigo líderes, não reverencio
líderes. O Poder deve ser um Poder Coletivo.
Enquanto socialista, defendo não o governo de um Homem
forte, carismático, líder messiânico, mas ao contrário, o
Governo Coletivo, compartilhado, sob a autoridade de
Conselhos de Trabalhadores.

Todo parasitismo deverá ser abolido. Classe burocrata, classe
política, classe militar, classe empresária – todos devem
trabalhar pelo compartilhamento das decisões – assim
não haverá usurpação, apropriações, privilégios.
.
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sábado, 14 de agosto de 2010

Quem são os socialistas?


Quem são os socialistas?
O que pretendem?

Vamos pensar. Que conceitos podem ser úteis? Não diremos que os socialistas são santos ou anjos, ou benfeitores. Não são anjos nem demônios. Assim como os capitalistas,os anti-socialistas, não são demônios. Esta forma de pensar – Bem e Mal, Mocinho e Bandido – é cristã, medieval, ultrapassada, pois procura polarizar e desqualificar o Outro.

Tanto capitalistas quanto socialistas têm interesses. É impossível ser imparcial neste campo. Ambos lutam pelo Poder. Com uma diferença: enquanto os Capitalistas querem reduzir o poder de decisão, concentrando-o em políticos, burocratas e empresários, os Socialistas querem ampliar o Poder de decisão para o maior número possível de pessoas.

Ambos lutam por liberdade, ainda que liberdade seja uma aspiração, uma quimera. A liberdade capitalista é livre-iniciativa para alguns lucrarem ao explorarem o trabalho alheio, enquanto a liberdade socialista é justamente livrar-se das explorações capitalistas! Mas o mérito do Socialismo, enquanto coletivismo, é a Igualdade (não total, mas de acesso às oportunidades).

Dizemos 'não Igualdade total', porque os humanos não são iguais, têm diferenças de capacidade física e mental. Coisa que sistemas sócio-econômicos não podem alterar – a não ser com manipulação genética e lavagem cerebral. (Na literatura temos as distopias “Admirável Mundo Novo” e “1984”)

Quanto aos critérios de liberdade, somos conscientes quanto a impossibilidade de liberdade, uma vez que há interesse coletivo, não interesses individuais que se sobreponham ao bem-estar coletivo.

No Capitalismo, alguns indivíduos são idolatrados por liderança, usurpação ou riqueza (ou tudo isso junto!) enquanto a maioria não-livre trabalha e reverencia os líderes, os estadistas, os Grandes Homens.

Mas o que substitui o Grande Homem? A grande Corporação? O Partido Único? Nada disso? Todos estes CONCENTRAM Poder. Enquanto o PODER COLETIVO é distribuído, é delegado, é controlado pelos Comitês de Trabalhadores – que não precisam de classes parasitárias – os políticos, os burocratas, os militares, os intelectuais, os sindicalistas, os advogados, os empresários.

Os trabalhadores que apoiam os exploradores somente agem por três motivos: 1. por alienação, falta de consciência política; 2. por desorganização, ao não criarem a própria organização política; 3. por desejo de serem exploradores, traindo a causa comum com os demais trabalhadores.

As lutas dos socialistas, na vanguarda das lutas trabalhistas, levaram a uma reforma do Capitalismo ao longo do século 20, que levou a um amortecimento da luta de classes, através do Estado paternalista – o Welfare State – com previdência social e seguro-desemprego.

Foram as lutas dos socialistas – muitos presos, exilados, torturados, assassinados – que conduziram a uma 'suavização' da exploração capitalista, quando os trabalhadores organizados passaram a integrar a 'Máquina' na atuação dos sindicatos, que agem 'amortecendo' a luta de classes (daí os sindicalistas, os não-revolucionários, serem denominados 'pelegos', ou seja, reduzem os atritos entre os interesses dos patrões e os interesses dos trabalhadores)

Mas o socialismo não é sindicalismo, não é capitalismo reformado, não é capitalismo estatal, é o governo dos próprios trabalhadores – caso contrário, os que realmente trabalham serão sempre explorados num sistema de dominação e alienação. Sabem pouco e ganham pouco.

Não é objetivo socialista ao excesso do trabalho, ou produção padrão, mas a redução do tempo de trabalho, pois todos participarão do processo produtivo. Ridículo é o taylorismo ao modo soviético, o stakhanovismo que é contrário ao trabalho digno, saudável. Não é o 'operário padrão' que vai simbolizar o socialismo, mas o o trabalho valorizado, que não desmoralize o trabalhador. O trabalho existe para o trabalhador, não o trabalhador para o trabalho, para morrer de tanto trabalhar.

Assim, não será mais uma parcela de operários a trabalharem 8 horas por dia, sem direito ou acesso à Educação e à Arte, mas todos os cidadãos fisicamente aptos que se ocuparão no máximo 6 horas no trabalho, e o restante do tempo podem se dedicar a própria Educação e a Arte.

Não havendo separação entre intelectual e operário – visto ambos serem proletários ( o professor vende a força mental, enquanto o operário vende a força física) – pois se durante 6 horas o cidadão realiza um trabalho físico, em outras 6 horas pode deixar-se a trabalhos intelectuais e artísticos.

Poderá também trabalhar em atividades alternadas. Na segunda, quarta e sexta-feira, ser um professor (realizar a atividade de ministrar aulas) e na terça e quinta-feira ser um faxineiro (ou seja, exercer a função de limpeza, recolhimento de lixo, etc)

A organização do trabalho implica numa reorganização do tempo, tendo por consequência o fim do desemprego e do estresse. Tal organização impedirá a falta de trabalho para uns, enquanto há um excesso de trabalho para outros.

Tipificação do Socialista

Quem é o socialista? Certamente não se resume num rebelde, revoltado, anticapitalista, uniformizado. Ser anticapitalista não é ser socialista. Além de criticar o Capitalismo é preciso pensar de forma alternativa. Deve-se destruir algo para construir outra coisa, outro sistema. Criticar algo é fácil – criticar o capitalismo – que funciona! - é relativamente fácil ! Mas difícil mesmo é construir o alternativo.

Ser anti-capitalista não é ser socialista. Pois os religiosos, os fundamentalistas, os niilistas, os anarquistas são anti-capitalistas, mas não pensam (e atuam) em prol da construção da democracia direita popular socialista.

O socialista pensa coletivamente, ou seja, superou o individualismo – este é o indivíduo consumista burguês que se julga 'livre' porque pode comprar e vender – enquanto o coletivo deve ser reformado, o interesse coletivo acima do individual, ou seja, as oportunidades para todos – não para meia-dúzia de privilegiados.

Mas então o indivíduo desaparece na multidão? Antes, o indivíduo é formado pela multidão! O indivíduo não é alguém que surgiu isolado – 'ninguém é uma ilha' – mas o ser individual é um ser social enquanto produto de uma coletividade, uma época, um contexto histórico. Não há 'natureza humana' – há fisiologia, anatomia humana – pois cada coletividade forma / educa / reproduz um padrão de indivíduo.

Por mais 'original' que seja o indivíduo, este fala um idioma dado socialmente, usa roupas dadas socialmente, usa produtos fabricado socialmente, em suma, a suposta 'originalidade' é uma quimera que inventamos para erguer nossa auto-estima, julgarmo-nos 'originais'.

O conceito de 'originalidade' é relativo, contextualizado. Difere de Talento, onde é uma marca de qualidade que nem todos possuem. Há várias formas de explicar o talento – até explicações místicas, esotéricas, inspirações das Musas, etc – mas o evidente é que o Talento não é dado socialmente: é uma flutuação em relação ao social. (Por outro lado, nem todo talentoso é original. É bem-sucedido realizando os atos padronizados...)

Quanto ao padrão de normalidade, o que sou, quem sou eu além de um ser dado socialmente, que me expresso num idioma para pessoas que falam o mesmo, enquanto os outros apenas são uma referência para a construção do meu próprio eu – o EU é dado em confronto com os Outros -o eu é o não-Outro, mas ainda, de fato, um outro Eu, que se julga 'original' !

Como ser original se há um Eu que é produto da Linguagem? De uma Linguagem que é uma convenção coletiva, enquanto produto da coletividade? Há uma possibilidade não determinística: o Talento. (O que será assunto de outro ensaio)

O contraponto: os anti-socialistas

Em contraponto, chamamos de anti-socialistas aos indivíduos que se posicionam contra os socialistas. O que caracteriza estes indivíduos? Em 90 % dos casos são aqueles que usufruem de privilégios e posses, mas também os que desejam ter privilégios (o pobre que luta para ser rico, por exemplo). São os egoístas, os que aceitam e reproduzem formas hierárquicas (uns mandam e outros obedecem), onde uns são 'mais' do que outros – o médico é 'mais' que o enfermeiro, o motorista é 'mais' que o cobrador, o professor é 'mais' que o lixeiro...

Qual a vantagem do socialista em relação ao anti-socialista? Não há vantagem para o socialista – igual há uma série de privilégios para o anti-socialista. A vantagem no socialismo é um benefício coletivo – o socialista individualmente recebe o mesmo que o coletivo. A ação do militante socialista é a de atuação pedagógica – não de vigilância ou repressão – muito menos de milícia armada. Não se conquista o socialismo pela violência, mas através de um conscientização dos benefícios para a coletividade, e não para alguns indivíduos privilegiados.
Ago/10


Leonardo de Magalhaens
http://leoleituraescrita.blogspot.com

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

É necessária uma Revolução? (ensaio)


Ensaio

É necessária uma Revolução?

É necessária. Mas o ideal (apesar de não vivermos no mundo ideal...) seria uma mudança não violenta. Uma mudança gradativa, com a conscientização mediante o processo educacional. Mas a Burguesia continua a cometer os mesmos erros da Nobreza: acúmulo de poder econômico e político, concentração de renda, aumento do 'fosso' entre ricos e pobres, a identificação entre consumo e progresso (é mais privilegiado quem consome mais...), dentre outros. A Burguesia, de fato, não permite uma educação democrática efetiva: o esboço de uma educação para a Democracia direta (fundamental para o Socialismo)

Todas as Revoluções de 'esquerda' que envolveram violência, em fins do século 19 e no século 20, acabaram em contra-revoluções ainda mais violentas – e a vitória dos reacionários. A volta das monarquias e do clericalismo. Mesmo a Revolução Russa, que levou os Sovietes (conselhos de operários e camponeses) ao poder, acabou sendo concentrada e centralizada pelos Bolcheviques. Depois o Estalinismo – nos anos 30 – eliminou os Bolcheviques (aqueles revolucionários de 1905 e 1917) mantendo o poder na mão dos Burocratas da Nomenklatura (classe privilegiada dos 'servidores públicos' filiados ao/ou/indicados pelo PC) que governaram numa espécie de Centralismo partidário, numa sistema econômico estatista que pouco tem de socialismo (muitos denominam tal sistema de CAPITALISMO DE ESTADO)

Depois a Segunda Guerra Mundial, o Estalinismo foi expandido com o avanço das tropas russas no leste da Europeu – atingindo Polônia, Tcheco-eslováquia, Rumânia, Hungria, Bulgária, e países bálticos. Também a Iugoslávia – mas lá a vitória foi dos comunistas locais, não do Exército Vermelho. O povo foi obrigado a seguir um sistema econômico híbrido de capitalismo e de estatismo (dito 'socialismo real') e nunca aceitou tal imposição. Daí a Liberdade ter sido confundida com 'a vida no capitalismo ocidental' (como se as pessoas fossem 'livres' no Capitalismo...)

Assim, evidencia-se que o Socialismo não pode ser edificado pela violência – nem de cima-para-baixo, nem de baixo-para-cima. Não é um sistema que possa ser imposto aos cidadãos – ninguém deve ser obrigado a ser 'socialista' – até porque os 'socialistas' são minoria, são a vanguarda. Os Socialistas precisam educar os cidadãos para o exercício da Democracia direta e o fim da 'divisão social do trabalho' – num esforço que gastará, no mínimo, três gerações (cerca de 40 a 50 anos), quando cada pessoa estará apta a exercer várias atividades – não exatamente 'profissões'. Assim, sem as 'classes' – pois todos trabalham, não havendo 'políticos' nem 'policiais' – os cidadãos resolvem seus problemas sem recorrerem às 'autoridades' (que atualmente somente se preocupam com seus interesses excusos...)
O processo de 're-educação' (para não usar o termo comunista 'revolução') deve manter as conquistas burguesas que afastaram o obscurantismo medieval. Deve ser mantida a divisão de poderes, o mundo laico (positivismo), a liberdade de reunião e de expressão (liberalismo), a pluralidade de estéticas e de opção sexual, etc, e avançando rumo a emancipação dos proletários e camponeses, eliminação do narcotráfico e da prostituição, descentralização dos sistemas de previdência social, distribuição de terras, controle popular sobre as instituições bancárias e financeiras, restrição do uso de automóveis para uso particular (pois é essencial é a melhora do transporte coletivo: trens, metrôs), confisco de bens (mais do que a taxação hipócrita de 'grandes fortunas').

Mas a propriedade particular não poderá ser abolida. Realmente seria 'idealismo' demais esperar que haja uma 'nivelação'. Os meios de produção (indústrias, empresas, siderúrgicas, etc) e sistemas de geração de energia (usinas hidrelétricas, termoelétricas, nucleares, etc) deverão ser gerenciados em forma cooperativa, sem patrão e sem Estado (entenda-se o Estado-nação, burguês). Enquanto, os pequenos negócios deverão até ser incentivados. Padarias, bares, drogarias, lanchonetes, lan houses, tudo isso deverá surgir em maior quantidade – os pequenos negócios precisam gerar empregos. O que não poderá ser admitido é a existência de grandes corporações a explorar a mão de obra – tais como redes de hipermercados, concessionárias, trustes de bebidas, monopólios de transporte coletivo – como temos assistido na atualidade. (1)


Como processo educativo, o socialismo precisará superar duas grande forças: a competição capitalista (a gerar consumo e devastação) e o niilismo. Pois em toda mudança de sistema, há uma grande concentração de niilismo. (Niilismo: imagens de decadência, morte, destruição, cenas apocalípticas, milenarismo, messianismo, etc) O socialismo precisará (ao mesmo tempo!) substituir o sistema competitivo pelo sistema cooperativo e superar a decadência do sistema capitalista (afundado em narcotráfico, vícios, prostituição, comérico de orgãos humanos, tráfico de escravos e mulheres, homofobia, etc) sem deixar lacunas para a anomia e a contra-revolução (que se aproveitará da momentânea fase de transição para fomentar um fanatismo religioso e instalar uma espécie de Fundamentalismo)


O Socialista Revolucionário é aquele que ousa olhar para a frente, para uma ordem construída em cooperação, contrabalanceando o 'individualismo consumista' com um 'coletivismo sustentável', onde todos ganhem, sem prejuízo de terceiros e sem devastação ambiental. Uma ampliação da Democracia representativa – que gera o parasitismo das classes política e administrativa – rumo a uma Democracia direta – exercida pelos próprios cidadãos.



por Leonardo de Magalhaens


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notas

(1)O Capitalismo funciona gerando concentração de renda – as Grandes Corporações – através de Fusões – Monopólios – Cartéis. São os tubarões engolindo (isto é, comprando) peixinhos e engordando. (Tal a ciclópica OCP – de “Robocop The movie” - que compra até órgãos do serviço público, gerenciando a polícia, as prisões, etc)

AmBev : fusão de Antarctica e Brahma – em 1999
http://www.ambev.com.br/
http://pt.wikipedia.org/wiki/AmBev
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Coca-Cola comprou a Columbia Pictures, investiu no Papai Noel
e declarou guerra à Pepsi Cola
http://pt.wikipedia.org/wiki/Coca-Cola#Compra_da_Columbia_Pictures
mais sobre indústria do refrigerante em
http://www.abir.org.br/article.php3?id_article=395
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Fusão de Sadia e Perdigão
http://portalexame.abril.com.br/negocios/impacto-eventual-fusao-sadia-perdigao-469667.html
http://www.investidorjovem.com.br/a-fusao-entre-perdigao-e-sadia
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u568000.shtml
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Pão de Açucar compra Casas Bahia
http://www.estadao.com.br/noticias/economia,pao-de-acucar-compra-as-casas-bahia,476631,0.htm
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u661677.shtml
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Nestlé comprou a Parmalat e agora compra empresa canadense Kraft Food's frozen pizza::::
http://www.google.com.br/#hl=pt-BR&q=nestle+compra+a+parmalat&meta=&aq=2&oq=nestle+compra&fp=c1f044a3a07efcf
http://www.nestle.com/MediaCenter/PressReleases/AllPressReleases/Kraft+pizzas.htm
http://www.marataizes.com.br/noticias/news.php?codnot=266984
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Mais sobre as Grandes Corporações
http://economiasocialistads.blogspot.com/2009/10/chocolates-nestle.html
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quarta-feira, 28 de julho de 2010

Dilema: Igualdade X Liberdade?

Ensaio


A Igualdade Socialista X a pseudo-Liberdade Burguesa


A liberdade do Liberalismo é a liberdade para consumir – ter coisas, ambicionar mais coisas. Não uma liberdade real. Até porque Liberdade não existe. É um conceito metafísico – vazio e arbitrário.

Não somos livres, realmente. Em nenhum sistema social-político-econômico. Estamos sujeitos às condições familiares, aos fatores climáticas, as circunstâncias históricas. Temos dependência fisiológica, afetiva, econômica.

Mas o Liberalismo promete Liberdade. De pensamento, de expressão, de adquirir bens – desde que se 'jogue o jogo': tenha dinheiro para negociar, para acumular mais dinheiro.

A pregação de Liberdade fazia sentido na Idade Média, quando os servos estavam 'presos' à terra, ao feudo. Mas então os servos emigraram ou foram expulsos – e rumaram para as cidades que então cresciam (os burgos) onde acabaram virando mão de obra barata para os burgueses que então enriqueciam. Então, os servos tinham 'liberdade'? Para vender a 'força de trabalho'? Liberdade para serem livremente explorados?

Realmente, o ser humano encontra-se num mundo onde não tem liberdade de fato e também não tem Igualdade. Que também é uma abstração. Não somos iguais. Temos diferenciação fisiológicas, de personalidade, de pensamento, de gosto estético.

A Igualdade que o Socialismo sempre defendeu é aquela de oportunidade (que o Capitalismo apregoa tanto – com tanta falsidade e hipocrisia!) de acesso aos bens sociais e bens econômicos. Que não seja apenas um Elite, uma Nobreza, a possuir a enorme quantidade de riqueza para usufruir ao explorar o trabalho alheio.

A Igualdade socialista não é 'uniformização', pois as pessoas não são iguais. Mas de 'oportunidades', de acesso à justiça, de acesso às decisões políticas. Um poder compartilhado, ao contrário de um poder concentrado, centralizado. O poder compartilhado é a verdade Democracia – direta e participativa. Sem uma classe intermediária – a classe política – para se aproveitar do processo político em prol de interesses próprios.


Leonardo de Magalhaens

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Comunismo X Democracia - Socialismo: Desafios



Comunismo e Democracia

Soa irônico (senão cínico) os Comunistas falarem em respeito à Democracia, ou Direitos Humanos, etc, como se fossem os democratas por excelência. “Se tivemos uma ditadura de direita foi para livrar o Brasil de uma ditadura de esquerda”, justifica o conservador. E não está errado: os comunistas sempre radicalizaram, e sempre atacaram a “democracia burguesa”, ao insistirem na pregação de uma “ditadura do proletariado”.

O problema dos Comunistas (ou que se dizem assim) é que esquecem que a Democracia é um avanço. Que é preciso avançar ainda mais a Democracia – ampliar o processo democrático de 'representativo' para ' direto' – e não inventar outra 'ditadura'. Ditaduras – sejam de direita ou esquerda, teocráticas, etc – não interessam. Radicalismos somente ajudam a Burguesia a se manter no poder. (Não hesitam em chamar os lobos armados contra as raposas armadas...)

No mais, a própria cúpula do PC do B (que depois virou PCB, e rachou gerando outro PC do B) sabia da inviabilidade de uma 'luta armada'. Tanto que as guerrilhas eram dissidências – militantes fanatizados – que apenas conseguiram 'justificar' a ditadura da direita (pois os militares não queriam deixar o poder tão cedo...) O tiro realmente saiu pela culatra – a luta da esquerda apenas aumentou a repressão da direita.

Repressão que não demorou a voltar-se contra o Centro – atacando profissionais liberais, jornalistas, sacerdotes, etc – e quando a 'repressão' atingiu os filhos da própria Burguesia (lembram-se dos estudantes universitários sendo humilhados pelos soldados?) então a situação fugiu ao controle – os lobos armados eliminaram as raposas armadas, e começaram a encurralar as ovelhinhas.

Assim, por mais irônico que seja o radicalismo dos Comunistas é um atraso rumo ao (possível?) Comunismo – e não chegamos sequer ao Socialismo. Ou melhor: a promessa de Comunismo é um entrave para o avanço ao Socialismo. Prometer demais e não cumprir é gerar frustração, todos sabem. Projetos muito audaciosos – Comunismo, Anarquismo, Sociedade Alternativa, etc – tudo isso gera mal-entendidos, fantasias e fanatismos. Se conseguir chegar ao Socialismo – e conseguir manter por, digamos, um século – já está bom demais.


Obstáculos ao Socialismo

Quais os obstáculos ao Socialismo?, podem perguntar. É a natureza humana? É a ambição? É a violência? Tudo isso e nada disso. Não há natureza humana – muito menos para justificar um sisitema mercenário igual ao Capitalismo da 'selva de pedra'. O próprio Capitalismo é gerado por (e gera) ambição: é um sistema que se auto-alimenta (feedback) e se auto-destrói. Mais cem anos de Capitalismo e vamos precisar colonizar a lua.

Obstáculos ao Socialismo: desigualdade entre as pessoas (ricas/pobres; estudadas/analfabetas; fanáticas/indiferentes, etc), também a desigualdade de avanço político e técnico que prejudicam o internacionalismo. Se algumas nações estão no ápice da Democracia, do desenvolvimento industrial, do bem-estar social, outros países ainda estão na idade Média, no feudalismo, no fundamentalismo, no clericalismo.

Mesmo se daqui há cem anos, a Europa e a América chegarem ao Socialismo (caso contrário, será a barbárie), o que podem fazer quanto ao atraso medieval da Ásia e da África? Atraso que foi muito agravado pelo colonialismo-imperialismo dos próprios europeus e americanos. Há um visível atraso democrático e econômico em muitos países – ainda que detenham tecnologia e armas nucleares – pois continuam na teocracia, ou em rivalidades tribias, gerando guerra civil, e sequer sabem o que seja Democracia (é inútil implantar Democracia pela força, assim como é trágico implantar Socialismo pelas armas!). Sem chegarem a plena Democracia representativa não podem conceber a Democracia direta – essencial para o compartilhamento de poder que deve evitar o Socialismo na sua variante de 'ditadura de esquerda'.

Então a questão é 'democratizar': como integrar os países islâmicos? Como superar as guerras tribais? Como garantir a tolerância racial em países multiétnicos? Como garantir a tolerância religiosa em países fundamentalistas (como a Arábia e o Iran), ou plurirreligiosos (como a Índia)?
Eis os nossos desafios no século 21.
por Leonardo de Magalhaens

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quarta-feira, 23 de junho de 2010

Socialismo E Comunismo - distinções


Ensaio

Socialismo e Comunismo

É possível encontrar na mídia e nos livros didáticos algumas distinções entre 'socialistas' e 'comunistas'. Que o primeiro é um 'comunista moderado' e que o segundo é um 'socialista exaltado', ou que o socialista é um 'reformista' e que o comunista é um 'revolucionário'. Na verdade, ambos os grupos são muito próximos, são a 'Esquerda' do espectro político, pois lutam por igualdade e justiça social.

Mas há uma diferença: enquanto os socialistas acreditam na democracia (mas avançada que a 'democracia representativa liberal'), os comunistas insistem em defender uma 'ditadura do proletariado', e acusam os socialistas de 'reformistas' e 'oportunistas'. O 'radicalismo' dos comunistas é responsável pela 'extrema esquerda' que faz cessar o diálogo e leva assim ao 'totalitarismo' (de classe ou de partido).

Os socialistas (não meramente por 'reformismo') esperam conservar os melhores avanços políticos e tecnológicos da burguesia (e sua promessa de liberalismo), que é uma superação do absolutismo e clericalismo medieval, ao adotar a divisão de poderes (executivo/legislativo/judiciário), o Estado laico (separação Igreja - Estado), o habeas corpus (integridade humana), até o sistema de previdência (descentralizado, porém).

A questão do Estado: tanto comunistas quanto socialistas esperam um sistema político sem Estado, mas não chegam ao ponto de desejarem abolir de imediato a estrutura do Estado, como é o desejo dos anarquistas e dos radicais liberais. Na verdade, não há uma substituição coerente e justa da 'figura estatal', tão elogiada pelos fascistas (o Fascismo é um Estatismo. Disse o Duce Mussolini: “Tutto nello Stato, niente al di fuori dello Stato” (Tudo no Estado, nada fora do Estado”)

Porém, enquanto os 'fascistas' defendem o Estado hierárquico de cima-para-baixo, como um regime militarista, com clara distinção entre oficiais e soldados, quem manda e quem obedece; os socialistas desejam o Estado de baixo-para-cima, na forma dos 'conselhos'; os comunistas alegam a necessidade de uma 'ditadura do proletariado”. E os anarquistas esperam um não-Estado (ou no máximo uma estrutura não formal de 'federações' autônomas, não hierarquizadas -mas 'harmonizadas', ou seja, uma sociedade mais 'horizontal'.

Outra diferença básica entre Socialismo e Comunismo é a questão do Trabalho. E dos meios de produção. A quem pertence? O que cada um recebe? O Comunismo seria o fim da propriedade particular, e todos teriam o que necessitam (“A cada um segundo suas necessidades”). Seria o ideal, mas não é possível. Veremos. O Socialismo espera que cada um receba segundo o seu trabalho. Mas aí seria Capitalismo!, alguns dizem. Mas enquanto no Capitalismo existe uma desigualdade de oportunidade e de acesso às riquezas, pois “uns são mais iguais que outros”; no Socialismo, as oportunidades são mais equilibradas – todos tem o mesmo ponto de partida quanto aos critérios sócio-econômicos, as diferenças serão somente aquelas fisiológicas e as de caráter - e somente não trabalha quem não pode e quem não quer! Quem não quer trabalhar deve receber o mesmo que os trabalhadores?

Para isso é necessário dar um fim as divisões de trabalho: os que mandam e os que obedecem. Os que administram e os que trabalham realmente. E não exaltar uma classe sobre outra: dizer que o Proletariado é melhor que os Especialistas. Mas: acabar com Proletariado e com Especialistas. Findar as distinções: trabalho mental e trabalho braçal. Todos realizando ambas as 'modalidades' de trabalho: sendo pensado e sendo executado. Não transformar todos em 'proletários' – o que seria nivelar por baixo, um plebeísmo – mas possibilitar que todos sejam aptos ao trabalho metódico e manual. “Ditadura do proletariado” é um contra-senso: afinal, quem quer ser 'proletário'? Quem deseja uma 'ditadura'?

Quem defende uma 'ditadura do proletariado' apenas se prejudica. Não é uma 'propaganda', ou um 'slogan', muito promissor. O importante é desenvolver a democracia e acabar com a exploração do trabalho.
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por Leonardo de Magalhaens
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quarta-feira, 2 de junho de 2010

O que é mesmo SOCIALISMO?




Socialismo não é meramente anti-capitalismo, muito menos capitalismo reformado, ou 'Capitalismo de Estado' (que muitos chamam de 'socialismo real'). E Socialismo não é Comunismo, e muito menos 'ditadura do proletariado'. Socialismo não é anti-democrático, é superação da Democracia parlamentarista burguesa, liberal, representativa, por uma Democracia real, direta, sem intermediários (a classe dos políticos).



Ser socialista não é meramente ser anti-capitalista, assim como ser anti-capitalista não significa ser de 'esquerda', pode ser um medievalista, um monarquista, um corporativista, um fascista, um anarquista, um hippie, um esotérico-neo-pagão, etc. Em suma, mais do que se posicionar contra os 'males do capitalismo' é assumir a construção da nova sociedade socialista. O Socialismo é a sobrevivência da humanidade. Precisamos escolher: Socialismo ou barbárie?
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O que é mesmo o Socialismo?
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Diante das desinformações da mídia e dos pseudo-didatismos, há toda uma gama de confusão propositadamente articulada em torno do termo 'socialismo'. Confunde-se Socialismo com Comunismo, e então se diz que houve um “Socialismo real” na Rússia (na ex-URSS), ou que a China (e Cuba) é um “socialismo repressor”, ou que Coreia do Norte demonstra bem que a 'liberdade' só existe no Capitalismo.


Assim, muitos pensam que já existiu o 'socialismo' ou que este ainda existe, e trata-se de um 'sistema repressor', enquanto o Capitalismo seria o 'melhor dos mundos possíveis'. Ou que o Socialismo é sempre anti-democrático e que visa 'uniformizar' os cidadãos, onde todos vestem macacão de operários numa severa “ditadura do proletariado”.


Mas, é preciso esclarecer. O Socialismo não é nem pretende ser um “Capitalismo de Estado” nem uma “ditadura do proletariado”. Pois não almeja uma “estatização dos meios de produção” ou uma “proletarização da sociedade”, mas uma “coletivização dos meios de produção” a serem gerenciados pelos cidadãos, em democracia direta, sem burocratas e classe política. Não visa uma “ditadura do proletariado”, mas a plena democracia e o fim do proletariado – ou seja, uma classe de homens-mercadoria que negociam a própria força-de-trabalho. Não é fazer todos serem 'proletários', mas findar com a divisão de trabalho que perpetua patrão e empregados, administradores e operários, dominadores e dominados.


O Socialismo não é Populismo, nem Sindicalismo, nem 'social-fascismo', e muito menos Corporativismo. Mas é, sobretudo, Coletivismo, Auto-gestão e Cooperativismo. Esclareça-se mais: é essencial a auto-gestão, mas nem toda auto-gestão é socialista. Veremos depois.

O Socialismo não é Sindicalismo, nem reformismo, nem assistencialismo, mas a superação de tudo isso – engendrado pelas desigualdades de renda no seio do Capitalismo. É superar o Sindicalismo, pois havendo os Conselhos, operando através da democracia direta, não há necessidade de uma classe de sindicalista, pelegos, aliviando os atritos da 'luta de classes'. O sindicalismo não é superação, é manutenção da exploração. Quanto ao reformismo e assistencialismo é o continuísmo da miséria – havendo pobres continua-se a 'caridade', distribuindo renda através de 'favores' e 'bônus'. Não transforma as relações sociais de produção – onde uns ganham mais do que outros – mas providencia-se uma 'esmola' para os que saem perdendo no 'jogo'.


O Socialismo não é Planificação, nem 'trabalho severo', nem sequer uma mistura neo-tecnológica de taylorismo-fordismo-toyotismo. É a superação de todo labor – no sentido de que não deve haver separação entre trabalho e prazer – pois a ênfase não é sobre 'cotas de produção' ou 'exigências de mercado', mas o importante são os produtores, as pessoas que trabalham e que vão se realizar através do trabalho. A produção deve servir aos produtores – e não o contrário. Os trabalhadores devem deixar de serem peças e engrenagens de um enorme mecanismo de exploração e devastação que acaba por ameaça a sustentabilidade ecológica planetária.



Socialismo não é Comunismo nem Anarquismo. Se o Comunismo prega a 'ditadura do proletariado' e o slogan “a cada um segundo suas necessidades”, e o Anarquismo prega uma 'sociedade alternativa' sem autoridades e hierarquias, apenas coordenação, o Socialismo lembra que o importante é desenvolver a Democracia, elevando o nível político e participativo dos cidadãos, de forma a aperfeiçoar os instrumentos democráticos. Assim uma Democracia direta poderá substituir a atual Democracia representativa que depende ainda de uma Burocracia (o Estado) e uma 'classe política'. Também é essencial saber que não há sociedade sem autoridade. Importante é que tal autoridade não seja externa nem imposta, mas um poder compartilhado coletivo – que todos devem obedecer.


E que o compartilhamento dos benefícios sociais são proporcionais ao nível de trabalho. Todos tendo acesso ao trabalho, obviamente. Assim, será ' a cada um segundo o seu trabalho'. E não seria um 'neo-capitalismo', pois no Capitalismo o que ocorre é um desigualdade de oportunidades. Dizem que o pobre não 'sobe na vida' por ser preguiçoso! Mas quantos não estão excluídos do 'mercado de trabalho'? Assim o 'mercado' apenas reforça a desigualdade – e culpa os pobres pela própria pobreza. Mas, havendo trabalho para todos, e sabendo que há ainda sobram certas desigualdades (fisiológica e de caráter) é importante que todos sejam incentivados ao trabalho – não para gerar 'alguns mais do que outros' – mas para o progresso coletivo.


O Socialismo não é 'padronização' ou 'nivelamento por baixo'. Mas, antes, uma sociedade mais igualitária, com acesso ao trabalho, ao estudo, ao poder de decisão e produção, sem divisão entre 'trabalho mental' e 'trabalho braçal', sem gerentes, encarregados e escravos com carteira assinada. Não que todos se tornem 'proletários', mas que superem as lutas de classes e avancem rumo a bem-estar coletivo e não apenas de uma classe ou outra, com o prejuízo das demais.


Portanto, a importância de pensar coletivamente, em políticas de tolerância, de voluntariado, de pluriculturalismo, em prol da diversidade cultural diante da hegemonia do Capital que tudo compra e tudo vende. Não apoiar uma suposta 'diversidade' apenas por que há 'segmento de mercado' para comprar supérfluos, enquanto a maioria da população se esforça para adquirir o básico para a sobrevivência. Precisamos realmente manter uma 'segmentação em linhas de produtos' apenas para assegurar o privilégios dos consumidores endinheirados? Ao contrário, é necessária a produção básica, não guiada por estatísticas de consumo e lucro. Repetimos: a produção não é mais importante que os produtores, os cidadãos em trabalho coletivo.



Nos próximos Ensaios acompanharemos em detalhes as questões aqui levantadas.
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Leonardo de Magalhaens

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Socialismo não é Estatismo

Socialismo não é "estatização dos meios-de-produção"


Não será a 'ditadura do proletariado' (como encontramos nas páginas 59 a 61 do Manifesto), por que não haverá proletariado - haverá associações de cidadãos produtores. Não haverá distância entre produzir e gerenciar, não haverá uma classe de administradores (burocratas, tecnocratas) agindo por um poder 'delegado pela classe proletária. O objetivo do Socialismo não é levar os 'pobres' ao poder - mas acabar com a condição de Pobreza. Possibilitar a cada cidadão trabalhar e dividir as riquezas coletivamente.

Uma vez que é difícil um retorno à pequena propriedade produtiva (como antes da Revolução Industrial), ainda as fábricas congregam condições de produção e eficiência, e não podem ser atomizadas, fragmentadas. As fábricas não devem ser estatizadas, mas gerenciadas pelo coletivos dos trabalhadores - os Comitês - em tarefas executadas por técnicos e operários.

Os Comitês decidem pelas jornadas de trabalho, pela divisão dos lucros, pela escala de produção, pelas ampliações de estrutura industrial. As jornadas - depende das necessidades - podem ser diurnas e noturnas, para absorver a mão de obra excedente, além de reduzir as jornadas de outros turnos. Ao contrário de 1000 operários trabalharem - com estresse - por 8 horas, poderá haver o trabalho de 2000 operários, com cada grupo de 1000 trabalhando apenas 4 horas. Mais pessoas trabalhando menos.

O rodízio de função é essencial para que os operários conheçam cada etapa da fabricação de um produto e possam intervir para melhor gerência da produção, evitando assim a repetição do processo alienatório intensificado pelo Taylorismo e pelo Fordismo, além do Toyotismo, os sistemas de produção onde o trabalhador opera como uma máquina, restrito a uma função apenas na linha-de-produção. O rodízio possibilita que em dado período o operário cuide do corte, em outro momento da solda, e depois da moldagem, e depois da pintura, e assim por diante, assimilando o conhecimento que possibilite sua opinião e ação num conselho coletivo.

(Nota: para saber mais sobre Taylorismo, Fordismo, Toyotismo, ver info: http://www.bloco.org/index.php?option=com_content&task=view&id=468&Itemid=47 / http://pt.wikipedia.org/wiki/Taylorismo / http://pt.wikipedia.org/wiki/Fordismo / http://pt.wikipedia.org/wiki/Toyotismo )

O Socialismo é mais do que 'participação nos lucros' - os meios-de-produção pertencem ao coletivo de técnicos e trabalhadores, que administram a produção através dos Comitês. Os próprios operários preservam sua autonomia de gerência - agindo em concordância com o planejamento em coletivo com outros Comitês - sem a burocracia de 'representantes'. Inclusive, a profissionalização de 'representantes' - semelhantes aos políticos e sindicalistas - é impedida pelo rodízio de função, que se articula enquanto durar uma determinada tarefa.

Ou seja, não há representantes intermediários entre os proletários e o (digamos) Estado, mas a união dos Comitês na execução das projeções de produção e distribuição. As tarefas são delegadas - temporariamente - aos executores, que prestam contas ao Comitê.

O 'Estado proletário' cuidará da transição - não 'ditadura do proletariado', pois o proletariado deixa de existir - quando administra os bens antes nas mãos das oligarquias. Encontramos claramente no Manifesto, "O proletariado utilizará seu domínio político para arrancar pouco a pouco todo o capital à burguesia, para centralizar todos os instrumentos da produção nas mãos do Estado, ou seja, do proletariado organizado como classe dominante, e para aumentar o mais rapidamente possível a massa das forças produtivas." ("zu zentralisieren und die Masse der Produktionskräfte möglichst rasch zu vermehren", Marx & Engels)

O Estado - ou antes a União dos Comitês - na mão dos proletários - é necessário para centralizar as decisões e planejar as cotas de produção. É a atuação de BAIXO PARA CIMA (via política dos Comitês) que impede o Estatismo, o horror totalitário quando a máquina estatal mostra-se sem disfarces tal um "grande Leviathan" (vide as obras de Hobbes e A. Smith, e mais atualmente M. Foucault)

A parceria pública e privada (PP) é possível no Socialismo? Tais distinções não terão mais sentido. Uma vez que não haverá mais 'lucro privado' nem Estado enquanto 'interventor', tal parceria inexiste no Socialismo. Os Comitês decidem o que as fábricas necessitam e são notificados do que as Comunidades necessitam, e através de negociações ambas as partes planejam as soluções. O Estado é a UNIÃO de todos os Comitês - e nada mais.

Assim, também outro sistema hierárquico - as Forças Armadas. Em lugar de um Exército composto de uma elite de profissionais, uma 'casta' oligárquica armada, que se mantém distanciado do povo, pairando sobre os cidadãos (até sendo uma ameaça) será necessário ao povo reunido compor uma Milícia Popular, com cada cidadão fisica e mentalmente saudável a receber um treinamento militar para a eventualidade de um conflito (interno ou externo), capacitando-o a atuar na defesa do governo socialista.

Assim como encontramos na Guerra Civil Espanhola as brigadas internacionais (ver http://pt.wikipedia.org/wiki/Brigadas_Internacionais ) com sua organização hierárquica disposta por tarefa, sem que os níveis hierárquicos se tornem diferenças de status, onde os soldados não temem os oficiais, e todos se tratam por 'camarada', sem aquela rígida estratificação dos Fascistas.

Um verdadeiro exército democrático na forma de milícias populares, onde todos aqueles que se preparam fisicamente, também podem conhecer táticas e estratégias, além de técnicas de guerrilha, além dos conhecimentos de artilharia e engenharia. Não uma 'casta' a dominar os civis desarmados, mas todos prontos a defenderem uma sociedade mais eficiente e igualitária.
por Leonardo de Magalhaens

sábado, 15 de maio de 2010

Democracia e Ecologia




DEMOCRACIA E ECOLOGIA


Umas das preocupações do novo Milênio é a tentativa de equilibrar
o discurso ecológico com o interesse econômico. Manter um nível de
produção e consumo, e ao mesmo tempo, assegurar a conservação do
meio ambiente em escala global.

Obviamente surgem dificuldades. O sistema capitalista vive da
produção e do consumo, gerando descartáveis e lixo em escala nunca
dantes vista! As pesquisas atuais levam em considerações as
conversações na Conferência Rio-92, com seus tratados que não
saíram do papel, e com as medidas paliativas da Conferência de Kyoto,
a que perdeu força devido a intransigência dos norte-americanos
quanto às cotas de emissão de carbono.

Essa necessidade de ‘preservação’, em seu aspecto “idealista”,
surgiu na geração pós-Segunda Guerra, com seu ecologismo
peace and love” do movimento hippie, do desejo de voltar à natureza,
uma vez que a “civilização” é repressora e artificial. Mas nada propunham
de “alternativo” além de um estilo de vida, dissociado do sistema
econômico. Assim, muitas dessas comunidades não puderam se
manter, a menos que reduzissem o número de agregados. Ou seja,
o hippie é ‘excludente’ por excelência. Não é um estilo de vida que possa
ser estendido a toda a sociedade. A Revolução Industrial, desde o
século 18, criou um mundo sem retorno. Qualquer ruptura seria um
cataclisma.

Assim como seria um cataclismo a manutenção dos níveis de
produção e consumo. Se todos os países e povos consumissem como
os países e povos do dito Primeiro Mundo, os recursos globais já
teriam se esgotado e todos estaríamos vivendo numa enorme lata de
lixo! Logo, é hipocrisia falar em “conciliação”. Ou se aplica um freio
ao capitalismo ou se preserva a natureza. Fora isso, o “ecologismo”
seria outra ‘ideologia’ para vender produtos.

Com os problemas energéticos, toda uma gama de empresas pas-
saram a pesquisar as “fontes alternativas de energia”, como a aéolica
(a do vento), a solar (de painéis solares), dos ‘biofuels’ (tipo gás metano),
para evitar a queima dos combustíveis fósseis (o petróleo e derivados)
e o uso limpo, porém deveras perigoso, pois instável, da energia nuclear
(espectral desde o acidente de Tchernobyl, em 1986, na Ucrânia.) A
busca do “combustível ideal” apenas começou, uma vez que as com-
versações globais são no sentido de “reduzir as emissões de compostos
de carbono” que geram o chamado “efeito estufa” (greenhouse effect),
provocando uma elevação da temperatura da Terra, o famigerado
“Aquecimento Global” (Global Warming)

As conferências se sucedem (a mais atual em Durbai) como uma
epopéia diplomática, enquanto os setores particulares cooptam todo
um leque de profissionais (os técnicos em meio ambiente) para asses-
sorar as linhas de produção e diminuir os danos ambientais. Tudo muito
gradativo e paliativo. Nenhuma mudança estrutural significativa. Não
há adesão popular ao problema.

Alertadas sobre a emissão de gás carbono e excesso de queimadas e
acúmulo de lixo, as autoridades tem sido levadas à demagogia e às inter-
venções “pra inglês ver”. Pois os reflorestamentos não renovam as áreas
desmatadas, resolvendo apenas o problema da próxima geração de
árvores a serem cortadas (logo, preocupação comercial!) e os recursos
hídricos não são preservados (uma vez que não se ‘renovam’ lençóis
fleáticos e assemelhados), o que torna mero discurso essa de
“preservação das fontes e mananciais”, quando os terrenos onde
se instalam os “lixões” sequer recebem sondagens para determinação
de profundidades das águas de subsolo.

Uma problemática que se mostra perigosa, pois recebe “tratamento”
tardio. O capitalismo não se preocupou nem um pouco com a conser-
vação, uma vez que cercou e desmatou áreas, eliminou espécies animais
e vegetais (levou muitas à extinção!), devastou regiões inteiras com ativi-
dades extrativistas mineradoras, promoveu uma produção contínua de
mercadorias que, logo descartadas, geram montes everests de lixo, que
demoram séculos para se decomporem.

O clamor pelos “biodegradáveis” bem mostra o nível de desespero
(igual a proliferação dos ‘diet’ e ‘light’ com a onda de obesidade e elevação
dos casos de enfartes) sem real mudança estrutural, uma vez que inventar
sacolinhas e garrafas biodegradáveis não resolve o problema do ‘consu-
mismo’, que é justificado para a existência da produção. Um ciclo vicioso,
portanto. Produção necessária para criar renda e emprego, e consumo
estratosférico para absorver os níveis de produção. Cada vez se produz
mais, e se consome em excesso. Ocorre aqui uma ‘necessidade’ retroali-
mentada. Ou seja, a medida que a produção cresce, “criam-se” neces-
sidades (principalmente através da propaganda comercial)

No fundo, o que ocorre? Uma preocupação com a preservação
ambiental ou uma ânsia de novos lucros? “Não me interessa ser
ecológico, desde que eu ganhe com isso”, ou ainda, “se ajudo a ecologia,
tudo bem, mas meu interesse é o lucro”, assim pensam muitos
empresários, cinicamente. Pensam na ‘biodiversidade’ como outro
lucro, no patenteamento de ervas com fins medicinais, etc. e alegam
a necessidade de proteger a Amazônia tanto dos madeireiros e
garimpeiros, quanto dos exploradores ‘gringos’.

Muitos passam a investir em biofuels (biocombustíveis), ou em
energia solar, ou instalam hectares com hélices ao vento, ou aderem
aos “créditos de carbono”, na promessa de reduções, enquanto tonela-
das de garrafas são jogadas em rios, sem reciclagem, ou infinidades de
pneus formam colinas nos subúrbios, ou peças descartadas se acumulam
em ferro-velhos, ou oceanos de celulares usados mostram o nível de
descarte e desperdício de um sistema sem planificação.

É um quadro desolador. Somente a vontade popular pode dar
legitimidade à uma verdadeira reação. É necessário viabilizar os instru-
mentos democráticos para que as soluções possam surgir. Caso contrário,
a impossibilidade de um discurso ecológico conviver com os atuais níveis
de produção e consumo. Seria necessário frear ou planificar o atual
sistema econômico, e seu exagero de mercadorias, senão o “ecologismo”
não passará de oura ‘ideologia’, e vai parar na “lata de lixo da História”,
junto com o anarquismo, o bolchevismo, o movimento hippie.

Nota: A Internet é farta em informações sobre cada uma das medidas
aqui mencionadas, daí o não aprofundamento específico sobre cada
uma. Excederia o objetivo do ensaio. A leitura dos protocolos é reco-
mendada, para constatação do lapso entre o ‘ideal’ e o ‘real’.

Jan/08

Leonardo de Magalhaens
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