sábado, 14 de agosto de 2010

Quem são os socialistas?


Quem são os socialistas?
O que pretendem?

Vamos pensar. Que conceitos podem ser úteis? Não diremos que os socialistas são santos ou anjos, ou benfeitores. Não são anjos nem demônios. Assim como os capitalistas,os anti-socialistas, não são demônios. Esta forma de pensar – Bem e Mal, Mocinho e Bandido – é cristã, medieval, ultrapassada, pois procura polarizar e desqualificar o Outro.

Tanto capitalistas quanto socialistas têm interesses. É impossível ser imparcial neste campo. Ambos lutam pelo Poder. Com uma diferença: enquanto os Capitalistas querem reduzir o poder de decisão, concentrando-o em políticos, burocratas e empresários, os Socialistas querem ampliar o Poder de decisão para o maior número possível de pessoas.

Ambos lutam por liberdade, ainda que liberdade seja uma aspiração, uma quimera. A liberdade capitalista é livre-iniciativa para alguns lucrarem ao explorarem o trabalho alheio, enquanto a liberdade socialista é justamente livrar-se das explorações capitalistas! Mas o mérito do Socialismo, enquanto coletivismo, é a Igualdade (não total, mas de acesso às oportunidades).

Dizemos 'não Igualdade total', porque os humanos não são iguais, têm diferenças de capacidade física e mental. Coisa que sistemas sócio-econômicos não podem alterar – a não ser com manipulação genética e lavagem cerebral. (Na literatura temos as distopias “Admirável Mundo Novo” e “1984”)

Quanto aos critérios de liberdade, somos conscientes quanto a impossibilidade de liberdade, uma vez que há interesse coletivo, não interesses individuais que se sobreponham ao bem-estar coletivo.

No Capitalismo, alguns indivíduos são idolatrados por liderança, usurpação ou riqueza (ou tudo isso junto!) enquanto a maioria não-livre trabalha e reverencia os líderes, os estadistas, os Grandes Homens.

Mas o que substitui o Grande Homem? A grande Corporação? O Partido Único? Nada disso? Todos estes CONCENTRAM Poder. Enquanto o PODER COLETIVO é distribuído, é delegado, é controlado pelos Comitês de Trabalhadores – que não precisam de classes parasitárias – os políticos, os burocratas, os militares, os intelectuais, os sindicalistas, os advogados, os empresários.

Os trabalhadores que apoiam os exploradores somente agem por três motivos: 1. por alienação, falta de consciência política; 2. por desorganização, ao não criarem a própria organização política; 3. por desejo de serem exploradores, traindo a causa comum com os demais trabalhadores.

As lutas dos socialistas, na vanguarda das lutas trabalhistas, levaram a uma reforma do Capitalismo ao longo do século 20, que levou a um amortecimento da luta de classes, através do Estado paternalista – o Welfare State – com previdência social e seguro-desemprego.

Foram as lutas dos socialistas – muitos presos, exilados, torturados, assassinados – que conduziram a uma 'suavização' da exploração capitalista, quando os trabalhadores organizados passaram a integrar a 'Máquina' na atuação dos sindicatos, que agem 'amortecendo' a luta de classes (daí os sindicalistas, os não-revolucionários, serem denominados 'pelegos', ou seja, reduzem os atritos entre os interesses dos patrões e os interesses dos trabalhadores)

Mas o socialismo não é sindicalismo, não é capitalismo reformado, não é capitalismo estatal, é o governo dos próprios trabalhadores – caso contrário, os que realmente trabalham serão sempre explorados num sistema de dominação e alienação. Sabem pouco e ganham pouco.

Não é objetivo socialista ao excesso do trabalho, ou produção padrão, mas a redução do tempo de trabalho, pois todos participarão do processo produtivo. Ridículo é o taylorismo ao modo soviético, o stakhanovismo que é contrário ao trabalho digno, saudável. Não é o 'operário padrão' que vai simbolizar o socialismo, mas o o trabalho valorizado, que não desmoralize o trabalhador. O trabalho existe para o trabalhador, não o trabalhador para o trabalho, para morrer de tanto trabalhar.

Assim, não será mais uma parcela de operários a trabalharem 8 horas por dia, sem direito ou acesso à Educação e à Arte, mas todos os cidadãos fisicamente aptos que se ocuparão no máximo 6 horas no trabalho, e o restante do tempo podem se dedicar a própria Educação e a Arte.

Não havendo separação entre intelectual e operário – visto ambos serem proletários ( o professor vende a força mental, enquanto o operário vende a força física) – pois se durante 6 horas o cidadão realiza um trabalho físico, em outras 6 horas pode deixar-se a trabalhos intelectuais e artísticos.

Poderá também trabalhar em atividades alternadas. Na segunda, quarta e sexta-feira, ser um professor (realizar a atividade de ministrar aulas) e na terça e quinta-feira ser um faxineiro (ou seja, exercer a função de limpeza, recolhimento de lixo, etc)

A organização do trabalho implica numa reorganização do tempo, tendo por consequência o fim do desemprego e do estresse. Tal organização impedirá a falta de trabalho para uns, enquanto há um excesso de trabalho para outros.

Tipificação do Socialista

Quem é o socialista? Certamente não se resume num rebelde, revoltado, anticapitalista, uniformizado. Ser anticapitalista não é ser socialista. Além de criticar o Capitalismo é preciso pensar de forma alternativa. Deve-se destruir algo para construir outra coisa, outro sistema. Criticar algo é fácil – criticar o capitalismo – que funciona! - é relativamente fácil ! Mas difícil mesmo é construir o alternativo.

Ser anti-capitalista não é ser socialista. Pois os religiosos, os fundamentalistas, os niilistas, os anarquistas são anti-capitalistas, mas não pensam (e atuam) em prol da construção da democracia direita popular socialista.

O socialista pensa coletivamente, ou seja, superou o individualismo – este é o indivíduo consumista burguês que se julga 'livre' porque pode comprar e vender – enquanto o coletivo deve ser reformado, o interesse coletivo acima do individual, ou seja, as oportunidades para todos – não para meia-dúzia de privilegiados.

Mas então o indivíduo desaparece na multidão? Antes, o indivíduo é formado pela multidão! O indivíduo não é alguém que surgiu isolado – 'ninguém é uma ilha' – mas o ser individual é um ser social enquanto produto de uma coletividade, uma época, um contexto histórico. Não há 'natureza humana' – há fisiologia, anatomia humana – pois cada coletividade forma / educa / reproduz um padrão de indivíduo.

Por mais 'original' que seja o indivíduo, este fala um idioma dado socialmente, usa roupas dadas socialmente, usa produtos fabricado socialmente, em suma, a suposta 'originalidade' é uma quimera que inventamos para erguer nossa auto-estima, julgarmo-nos 'originais'.

O conceito de 'originalidade' é relativo, contextualizado. Difere de Talento, onde é uma marca de qualidade que nem todos possuem. Há várias formas de explicar o talento – até explicações místicas, esotéricas, inspirações das Musas, etc – mas o evidente é que o Talento não é dado socialmente: é uma flutuação em relação ao social. (Por outro lado, nem todo talentoso é original. É bem-sucedido realizando os atos padronizados...)

Quanto ao padrão de normalidade, o que sou, quem sou eu além de um ser dado socialmente, que me expresso num idioma para pessoas que falam o mesmo, enquanto os outros apenas são uma referência para a construção do meu próprio eu – o EU é dado em confronto com os Outros -o eu é o não-Outro, mas ainda, de fato, um outro Eu, que se julga 'original' !

Como ser original se há um Eu que é produto da Linguagem? De uma Linguagem que é uma convenção coletiva, enquanto produto da coletividade? Há uma possibilidade não determinística: o Talento. (O que será assunto de outro ensaio)

O contraponto: os anti-socialistas

Em contraponto, chamamos de anti-socialistas aos indivíduos que se posicionam contra os socialistas. O que caracteriza estes indivíduos? Em 90 % dos casos são aqueles que usufruem de privilégios e posses, mas também os que desejam ter privilégios (o pobre que luta para ser rico, por exemplo). São os egoístas, os que aceitam e reproduzem formas hierárquicas (uns mandam e outros obedecem), onde uns são 'mais' do que outros – o médico é 'mais' que o enfermeiro, o motorista é 'mais' que o cobrador, o professor é 'mais' que o lixeiro...

Qual a vantagem do socialista em relação ao anti-socialista? Não há vantagem para o socialista – igual há uma série de privilégios para o anti-socialista. A vantagem no socialismo é um benefício coletivo – o socialista individualmente recebe o mesmo que o coletivo. A ação do militante socialista é a de atuação pedagógica – não de vigilância ou repressão – muito menos de milícia armada. Não se conquista o socialismo pela violência, mas através de um conscientização dos benefícios para a coletividade, e não para alguns indivíduos privilegiados.
Ago/10


Leonardo de Magalhaens
http://leoleituraescrita.blogspot.com

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