domingo, 25 de abril de 2010

Diversidade, Pluralidade, Socialismo e Democracia


Diversidade, Pluralidade, Socialismo e Democracia


A produção de mercadorias tem saturado os mercados e os modos-de-vida com imagens e estereótipos, que rotulam as diversas manifestações culturais e estilos sociais, como mais um artigo a ser consumido. A pluralidade existe desde que seja interessante como 'mercadoria' para atrair novos consumidores.


Tudo está à venda - roupas e opiniões, notícias e diários pessoais, obras-de-arte e fotos de celebridades - e a pluralidade é aceita não por um fim em si mesma (como uma amostra da criatividade humana, por exemplo) mas como mais um artigo para o balcão.


A diversidade de estilos de vida, de expressão artística, de opção sexual, de vestimenta, de cor e etnia, quando não explorados comercialmente, evidencia o quanto somos diversos e diferentes, e o quanto somos hesitantes diante dos excêntricos - aqueles que flutuam além das convenções/padrões.



Imaginam muitos que um sistema socialista seja o templo do puritanismo - onde todo desvio é rotulado de 'dissidência' e 'subversão'. Obviamente que sempre haverá o dissidente e o subversivo. Nem todos se adaptam a um viver COLETIVO - há os sociopatas, os marginais (aqueles que se marginalizam, não exatamente excluídos pelo sistema econômico), os criminosos. Estes não são socializados nem são socializáveis. Ou são prisioneiros ou são eliminados.


Certamente para muitas pessoas não interessa o agir coletivo. Possuem interesses egoístas e querem lucrar e dominar. Suas ações passam a ser voltadas para sabotar e deteriorar as novas relações sociais - são os reacionários, os contra-revolucionários . As sabotagens inviabilizam o coletivo e causam o aumento da repressão. Uma escalada de repressão levaria ao aparelhamento policial e fortalecimento do Estado, ao contrário de seu mero papel de planejador em conjunto com o coletivo de Comitês (que poderá ser chamado de federação, ou assembléia ou diretório setorial) Assim, é necessário que os cidadãos reacionários devam ser afastados dos Comitês.


Sendo a administração via Comitês e sob direção compartilhada, aqueles que se colocam contra o Coletivo são passíveis de sofrer advertência e excomunhão. Sempre foi assim e sempre será. Sempre haverá os dissidentes e subversivos. Os seres humanos se dividem em aqueles que aprovam e aqueles que são do contra.



O que deve mover o sistema socialista é o compromisso com a COLETIVIDADE. O indivíduo vem em segundo plano. Negação da Liberdade? Ora, Liberdade é um conceito metafísico. Num sistema econômico não há liberdade. No Capitalismo, por exemplo, se o cidadão não tem dinheiro ele passa privações e pode dormir na rua e morrer de fome. No Socialismo, ou o cidadão se adapta ao sistema COLETIVO ou ele está excluído. Infelizmente é assim.


Mas o Socialismo - o próprio nome diz - é a administração social dos meios-de-produção e coordenação dos níveis de consumo. Consumo planejado? Sim, pois se a humanidade (e principalmente a população do 1o mundo) continuar a consumir nos atuais níveis, precisaremos de 4 planetas Terra de onde extrair matéria-prima e onde jogar lixo e resíduos industriais. O Consumo deve ser planejado e controlado. O excesso de mercadorias inúteis e banais que enchem as prateleiras apenas mostram a bizarra face irresponsável do atual sistema de produção. Mas cortar produção seria cortar postos de empregos? Sim, mas libertaria os proletários das linhas-de-produção de banalidades, e possibilitaria um melhor emprego da mão-de-obra em outras produções mais necessárias. Afinal, quantos sequer possuem calçados e vestuário? Apenas para que alguns tenham carros luxuosos e comidas finas?


Este consumo planejado livrará o Mercado dos excessos. Mercado? Claro, o Mercado não pode ser descartado. Assim como haverá vendas, bares, mercados distritais, moeda corrente. O que não será permitido é a onipresença e dita auto-regulação do Mercado. Um Mercado que torne a todos meros reféns - como vemos atualmente. O Mercado é inerente a necessidade humana de trocas. O que não será permitido é o 'reinado' do Mercado.

"Não será permitido? Ressoa como ditadura!" Realmente, pois como ressaltou Marx e Engels, no começo da mudança (a Revolução) haverá a necessidade violenta de desapropriar os oligarcas - nenhuma mudança se faz sem o recurso da força. Não que os socialistas sejam a favor da violência - mas a violência é inerente ao processo histórico. As guerras são as marcas ao longo da História, assinalando a ascensão e queda dos Exércitos e Impérios.


A pior violência é a violência empregada pelos oligarcas contra os proletários - seja durante as greves ou manifestações - seja através de leis que favorecem uns poucos contra a maioria. A pior violência é a exploração da mão-de-obra e a extração da mais-valia de uma classe que não possui os meios-de-produção que foram apropriados e concentrados nas mãos de poucos, que caprichosamente dispõem de existências e dignidades alheias.


A violência cotidiana e a guerra civil evidenciam o quanto a luta-de-classes é real. Se a mídia interpreta de outro modo é a evidência de sua co-optação pelas classes dominantes, e o quanto o meio midiático é cúmplice, atuando como legitimador em seu papel de 'indústria cultural' (ver Adorno e Horkheimer, "Dialética do Esclarecimento", ou nos sites http://www.urutagua.uem.br//04fil_silva.htm e http://pt.wikipedia.org/wiki/Ind%C3%BAstria_cultural )


A mídia - coligada com os grupos dominantes - passa uma imagem de 'oportunidades iguais' e de 'possibilidade de ascensão social' que inexiste. Aqueles que 'sobem' em status social nada mais fazem do que acumular riquezas extraindo a mais-valia da 'mercadoria' maõ-de-obra, ou por sorte (ou azar) quando jogam na loteria ou praticam atos de corrupção e desvio de verbas públicas (e não são denunciados e julgados).

Os proletários e os técnicos - aqueles que produzem e administram - no poder terão a chance (e quiçá a aproveitem!) de mudar a soberania caótica do Mercado e colocar uma ordem nesse cassino em que se perde a soberania popular. O Mercado será disciplinado. Enquanto não se produzirem calçados para todos os cidadãos, não se deve perder tempo com agasalhos de luxo. Enquanto não se iluminarem todas as residências, não se deve perder tempo em erguer monumentos faraônicos. O luxo de uns é a miséria de outros.


A divisão equitativa dos meios-de-produção e o consumo controlado dos bens-de-troca e dos bens-de-uso propiciam uma regulação e equilíbrio do Mercado e impede suas flutuações de oferta e procura. Exceto quando ocorrerem grande distúrbios da natureza (terremoto, secas, furacões, etc) o Mercado terá uma oferta e procura controlada. E um excedente será reservado para as épocas de catástrofes naturais.



O Socialismo não olha para o passado, mas para o futuro. É a vanguarda do Iluminismo e a denúncia do Liberalismo. É o reconhecimento das pequenas empresas das corporações de artesãos medievais e a proclamação da eficiência das linhas-de-produção. É o louvor das comunidades e a exaltação da luz artificial. O socialismo não vem libertar o indivíduo em si-mesmo, mas propiciar a libertação coletivo.



Ninguém está livre, quando seu irmão está sob correntes.



Por

Leonardo de Magalhaens

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