Comunismo e Democracia
Soa irônico (senão cínico) os Comunistas falarem em respeito à Democracia, ou Direitos Humanos, etc, como se fossem os democratas por excelência. “Se tivemos uma ditadura de direita foi para livrar o Brasil de uma ditadura de esquerda”, justifica o conservador. E não está errado: os comunistas sempre radicalizaram, e sempre atacaram a “democracia burguesa”, ao insistirem na pregação de uma “ditadura do proletariado”.
O problema dos Comunistas (ou que se dizem assim) é que esquecem que a Democracia é um avanço. Que é preciso avançar ainda mais a Democracia – ampliar o processo democrático de 'representativo' para ' direto' – e não inventar outra 'ditadura'. Ditaduras – sejam de direita ou esquerda, teocráticas, etc – não interessam. Radicalismos somente ajudam a Burguesia a se manter no poder. (Não hesitam em chamar os lobos armados contra as raposas armadas...)
No mais, a própria cúpula do PC do B (que depois virou PCB, e rachou gerando outro PC do B) sabia da inviabilidade de uma 'luta armada'. Tanto que as guerrilhas eram dissidências – militantes fanatizados – que apenas conseguiram 'justificar' a ditadura da direita (pois os militares não queriam deixar o poder tão cedo...) O tiro realmente saiu pela culatra – a luta da esquerda apenas aumentou a repressão da direita.
Repressão que não demorou a voltar-se contra o Centro – atacando profissionais liberais, jornalistas, sacerdotes, etc – e quando a 'repressão' atingiu os filhos da própria Burguesia (lembram-se dos estudantes universitários sendo humilhados pelos soldados?) então a situação fugiu ao controle – os lobos armados eliminaram as raposas armadas, e começaram a encurralar as ovelhinhas.
Assim, por mais irônico que seja o radicalismo dos Comunistas é um atraso rumo ao (possível?) Comunismo – e não chegamos sequer ao Socialismo. Ou melhor: a promessa de Comunismo é um entrave para o avanço ao Socialismo. Prometer demais e não cumprir é gerar frustração, todos sabem. Projetos muito audaciosos – Comunismo, Anarquismo, Sociedade Alternativa, etc – tudo isso gera mal-entendidos, fantasias e fanatismos. Se conseguir chegar ao Socialismo – e conseguir manter por, digamos, um século – já está bom demais.
Obstáculos ao Socialismo
Quais os obstáculos ao Socialismo?, podem perguntar. É a natureza humana? É a ambição? É a violência? Tudo isso e nada disso. Não há natureza humana – muito menos para justificar um sisitema mercenário igual ao Capitalismo da 'selva de pedra'. O próprio Capitalismo é gerado por (e gera) ambição: é um sistema que se auto-alimenta (feedback) e se auto-destrói. Mais cem anos de Capitalismo e vamos precisar colonizar a lua.
Obstáculos ao Socialismo: desigualdade entre as pessoas (ricas/pobres; estudadas/analfabetas; fanáticas/indiferentes, etc), também a desigualdade de avanço político e técnico que prejudicam o internacionalismo. Se algumas nações estão no ápice da Democracia, do desenvolvimento industrial, do bem-estar social, outros países ainda estão na idade Média, no feudalismo, no fundamentalismo, no clericalismo.
Mesmo se daqui há cem anos, a Europa e a América chegarem ao Socialismo (caso contrário, será a barbárie), o que podem fazer quanto ao atraso medieval da Ásia e da África? Atraso que foi muito agravado pelo colonialismo-imperialismo dos próprios europeus e americanos. Há um visível atraso democrático e econômico em muitos países – ainda que detenham tecnologia e armas nucleares – pois continuam na teocracia, ou em rivalidades tribias, gerando guerra civil, e sequer sabem o que seja Democracia (é inútil implantar Democracia pela força, assim como é trágico implantar Socialismo pelas armas!). Sem chegarem a plena Democracia representativa não podem conceber a Democracia direta – essencial para o compartilhamento de poder que deve evitar o Socialismo na sua variante de 'ditadura de esquerda'.
Então a questão é 'democratizar': como integrar os países islâmicos? Como superar as guerras tribais? Como garantir a tolerância racial em países multiétnicos? Como garantir a tolerância religiosa em países fundamentalistas (como a Arábia e o Iran), ou plurirreligiosos (como a Índia)?
Eis os nossos desafios no século 21.
por Leonardo de Magalhaens
.
..
...